Como desenredar nossos padrões a partir da representação dos 12 elos? Observamos que a neurose momentânea, expressa através dos elos 8, 9 e 10, não é um momento isolado de dor que passará. Observamos o momento que surge e os dois fatores que se encontram na sua origem:
Temos o hábito de nos fazer sofrer e nos recusarmos a admitir este fato, representado nos elos 1 e 2;
Devido a este hábito, criamos a ideia fixa de um eu pessoal que confrontamos a um mundo externo e nossa conduta obra permanentemente para confirmar este eu, representado nos elos 3 e 7. Vemos também que, ignorada, nossa neurose presente (elos 8, 9 e 10) perpetuará este padrão de hábitos repetitivos e egocêntricos por um futuro longínquo (elos 11 e 12).
Numa primeira abordagem, a noção pode parecer muito deprimente. A Roda da Vida representa a completa claustrofobia com que nos defrontamos quando compreendemos o momento atual e os padrões enrustidos partidos de um contexto mais amplo. Para o praticante de budismo, contudo, a claustrofobia tem um poderoso efeito poderoso. Quando reconhecemos que o momentâneo é um portentoso microcosmo da totalidade dos padrões de sofrimento, com certa brusquidão somos imobilizados neste preciso momento presente. Não podemos nos evadir, impossível racionalizar, não existem culpados. Fazemos uma pausa, sofremos intensamente e observamos as muitas causas e condições que invocaram o pesadelo. É neste momento que estabelecemos a ligação com a origem interdependente, como falamos anteriormente. Instantaneamente sentimos que somos enormemente livres. Todos os padrões giravam ao redor da negação da situação e, enquanto meditamos, aceitamos o que colocamos tanto empenho negando, raia então uma nova compreensão.
A nova compreensão tem vários aspectos. Primeiro, constatamos que a identidade tão cuidadosamente defendida é desnecessária e supérflua. Não será mais preciso consolidar o ego. Resta observar a intensidade do que está ocorrendo e liberar estratégias e defesas. Não tendo um ego com que digladiar, estamos apenas aqui, testemunhando diretamente o que se passa. O prazer é prazer, a dor é dor, sentimos que a ameaça e a promessa estão fora de contexto.
Segundo, esta lucidez com que acabamos de nos deparar é radiosa e vibrante. O fato de que é inevitável nos permite senti-la intensamente, sem lucubrações. O passado e o futuro deixam de ser realidades para nós; existe apenas o momento presente e no momento presente a mente está em repouso. Sentimos o estado desperto que nos é inerente, sem a cobertura de confusão causada pelas emoções a que estamos viciados há tanto tempo. É uma experiência conhecida de muitos e não apenas dos praticantes de budismo. Em momentos de crise temos vislumbres de clareza e lucidez. É apenas antes e depois destes momentos que retornam o medo, a confusão e a luta para nos restabelecer. O praticante compreende esta vivência como sendo o surgimento da verdadeira natureza da mente a cultiva este estado mental durante a meditação. Assim, crises e obstáculos são considerados presentes pelo praticante de budismo. Não que não sejam dolorosos, porque são, mas é que a dor é o mestre, uma forma de nos relembrar a capacidade fundamental que temos de aceitar a vida sem diluições. Não precisamos nos defender de quem somos e tais situações nos oferecem a oportunidade de viver com gratidão todas as experiências por que passamos e o cotidiano passa a ser uma aventura.
fonte: de Judith Simmer Brown
Tradução e adaptação de Tenzin Namdrol
Sem comentários:
Enviar um comentário