Sua Santidade o Décimo Sétimo Gyalwa Karmapa, Ogyen Trinley Dorje, nasceu em uma família de nômades em 1985 na região de Lhathok no Tibete. Os pais que tiveram muitas filhas e um filho, desejavam ter um outro filho. Foi lhes dito pelo abade iogue de Kalek, um monastério Karma Kagyu, que poderiam ter um filho, mas se o tivessem deveriam enviá-lo ao monastério de Kalek. Eles concordaram e após um curto período de tempo, tiveram um filho.
O menino foi chamado de “Apo Gaga”, que significa, “irmão feliz”. Esse foi o apelido dado a ele por sua irmã mais velha até que o Tai Situpa lhe desse um nome real. Apo Gaga passou quatro anos no monastério de Kalek, onde recebeu educação especial e foi tratado como uma reencarnação de um lama não-reconhecido. Durante esse período, passou algum tempo com seus pais.
Em 1992, sugeriu a seus pais que mudassem em breve seu local de acampamento. A decisão de mudança os colocou no local onde a carta de predição escrita pelo Décimo Sexto Karmapa havia dito que o Décimo Sétimo Karmapa seria encontrado. Apo Gaga comunicou a seus pais que seus monges estavam a caminho para encontrá-lo, e empacotou então as suas coisas.
Eventos miraculosos e sinais que ocorreram durante a gravidez e o nascimento de Apo Gaga—o local onde ele estava vivendo, encaixava-se exatamente com o local descrito na carta de predição deixada ao Tai Situpa pelo Décimo Sexto Karmapa; os nomes dos pais, a aparência e os modos do jovem menino—fizeram com que os monges de Tsurphu determinassem que esse menino nascido de pais nômades, era o Décimo Sétimo Karmapa. Sua Eminência Tai Situpa e Sua Santidade o Dalai Lama confirmaram a identificação. Após passar um curto período de tempo em Kalek, foram realizadas preparações para a sua jornada a Tsurphu. Antes que o grupo deixasse o monastério de Kalek, três sóis apareceram no céu que foram vistos por centenas de pessoas nas redondezas.
Em 27 de junho daquele ano, o governo chinês permitiu oficialmente o reconhecimento de Ogyen Trinley Dorje como a décima sétima reencarnação do Karmapa. Essa foi a primeira vez que o governo comunista permitira o reconhecimento de um lama reencarnado. A cerimônia de corte de cabelo e concessão de nome foi realizada em Jokhang, o templo mais famoso de Lhasa. Esta foi apenas a segunda vez que o Karmapa recebeu a ordenação ali.
A entronização foi celebrada no monastério de Tsurphu em 27 de setembro de 1992, onde 20.000 peregrinos compareceram. Sua Santidade concluiu a entronização dando bênçãos pessoais a multidão que rodeava por completo o monastério. O entusiasmo e o esmagador número de pessoas que tentavam entrar no monastério forçaram as bênçãos continuarem até o dia seguinte. Na manhã seguinte, aproximadamente 25.000 pessoas enfileiravam-se na frente de Sua Santidade para receber sua bênção pessoal. No dia posterior o Décimo Sétimo Karmapa deu a sua primeira iniciação formal, a de Tchenrezig Vermelho, de cima de um cobertura.
Desde a chegada a Tsurphu em 1992, Sua Santidade envolveu-se em primeiro lugar com os estudos do Dharma. Sua educação inicial começou sob a direção de Sua Eminência Tai Situ Rinpoche; Sua Eminência Goshir Gyaltsab Rinpoche; e o abade de Tsurphu, o último Drupön Detchen Rinpoche. O Umdze Tubten Zangpo, que serviu o Décimo Sexto Karmapa nos monastérios de Tsurphu e de Rumtek, foi o tutor de leitura de Sua Santidade até sua morte em 1997. Outros monges e lamas eruditos, incluindo Lama Nyima, continuaram a tutorar Sua Santidade.
Em 1994, a convite da República Popular da China, ele fez uma visita formal a Pequim. No trajeto em direção à capital chinesa, visitou os grandes locais sagrados do Tibete central, incluindo o templo de Jokhang, o Potala, e os monastérios Tashilhunpo, Drepung, Sera e Ganden, onde fez preces e oferecimentos.
Durante sua estadia em Pequim, encontrou-se com vários oficiais e foi formalmente apresentado ao presidente Djiang Zemin e o presidente do Congresso Li Peng. O Karmapa compareceu a eventos comemorativos do 45º aniversário da República Popular da China durante os quais ele ficou entusiasmado ao ver sua primeira queima de fogos. Ele fez peregrinações ao famoso altar que contém a relíquia do dente do Buddha nas cercanias de Pequim, e também a Wutai Shan (As Cinco Montanhas Sagradas de Manjushri) onde o Terceiro Karmapa, Ranjung Dorje, deu ensinamentos a mais de seiscentos anos atrás. Sua turnê continuou com sua primeira visita à beira mar e com paradas em Xangai, Nanquim, e Tchengdu antes de retornar ao Tibete. Essa viagem proporcionou a Sua Santidade uma primeira vista da vida urbana contemporânea da China, e também a seu modo de transporte moderno e tecnologia.
De volta a Tsurphu, o Karmapa continuou com seus estudos de Buddhadharma que incluem filosofia, debate, práticas ritualísticas, e dança sagrada. Todos os dias às 13 horas ele recebia visitantes—peregrinos de todas as partes do Tibete e do mundo—para oferecer-lhes bênçãos. Nos dias de festivais especiais vastas multidões de peregrinos faziam a trilha até Tsurphu, e Sua Santidade oferecia bênçãos individualmente a milhares de pessoas em um único dia.
À medida em que cresceu, começou a oferecer mais iniciações e a tomar o papel principal em vários rituais no monastério tais como, as danças anuais de Mahakala que conduzem o Losar, o Ano Novo tibetano.
No início de 1994, Sua Santidade começou a realizar seu legado de predizer e reconhecer o renascimento de lamas reencarnados, ou tulkus. O primeiro dos reconhecimentos foi o de Pawo Rinpoche, um importante lama Kagyu que faleceu no Nepal em 1991. O Karmapa escreveu uma carta de predição especificando em detalhes local e hora do ano do nascimento da criança, bem como várias dicas de nomes de seus pais e informação sobre os arredores de sua casa. Após uma busca baseada na carta de predição, o jovem Pawo Rinpoche foi descoberto no Tibete. Atualmente ele encontra-se em sua residência no Monastério de Nyenang próximo a Tsurphu.
Em 1996, Sua Santidade escreveu a próxima carta profética para o renascimento de Jamgön Kongtrul Rinpoche. Novamente, os detalhes da carta somados a uma série de esboços e mapas desenhados pelo Karmapa forneciam todos os sinais necessários e dicas que levariam a descoberta do Quarto Jamgön Kongtrul, então com dois anos. Hoje, Jamgön Kongtrul Rinpoche vive no Monastério de Pullahari em Kathmandu, no Nepal.
Boa parte da reconstrução física do Monastério de Tsurphu e da renovação da atividade do Dharma que dão continuidade ao que historicamente aconteceu ali nos últimos 800 anos floresceu devido ao retorno em 1992, do Décimo Sétimo Karmapa. Templos, altares, stupas, uma shedra e residências foram reconstruídos e preenchidos novamente com oferendas, estátuas, e pinturas. As thangkas gigantes de Tsurphu foram recriadas e estendidas em dias auspiciosos, as danças sagradas dos lamas que não eram praticadas a décadas foram novamente realizadas no pátio da frente.
Em 1999, Sua Santidade, o Karmapa fez outra viagem a Pequim a convite do governo e de oficiais religiosos da República Popular da China. Durante a visita atraiu muita atenção dos meios de comunicação e apareceu na televisão chinesa em um programa especial que relatava sua vida e atividades.
Em 1º de janeiro de 2000, enquanto o calendário ocidental marcava um novo milênio, monastérios, conventos, e centros de dharma de todo o mundo celebraram com oferecimentos de preces para a paz mundial, longa vida e o florescimento da atividade búdica do Karmapa, Sua Santidade começava sua jornada. Há apenas alguns dias antes, em 28 de dezembro, Ogyen Trinley Dorje, o Décimo Sétimo Karmapa, de quatorze anos, deixara o Monastério de Tolung Tshurphu com alguns atendentes, e secretamente o Tibete. Em 5 de janeiro, chegou seguramente a Dharamsala, Índia, onde encontrou-se com Sua Santidade o Décimo Quarto Dalai Lama.
Desde esse tempo, Sua Santidade Karmapa vive temporariamente no Templo Gyuto Ramoche, próximo a Dharamsala. Em Gyuto, lhe é possível continuar seus estudos em filosofia budista e receber instruções, transmissões, e iniciações das práticas Vajrayana Karma Kagyu dos mestres da linhagem. Seu principal tutor tem sido Khenchen Thrangu Rinpoche, Khenpo eminente da linhagem Kagyu.
Na Índia recebe milhares de visitantes de todo o mundo, incluindo líderes religiosos, políticos, astros de cinema, e pessoas de todos os tipos de vida—budistas e não-budistas de um modo igual. A cada semana, Sua Santidade oferece audiências públicas e privadas em Gyuto e na ocasião concede iniciação pública.
Desde a chegada a Dharamsala, o Karmapa tem desenvolvido uma forte ligação com Sua Santidade o Dalai Lama. Os dois têm tido muitas oportunidades de se encontrar e em uma certa ocasião em fevereiro de 2000, o Karmapa reuniu-se com outros líderes das cinco escolas do budismo tibetano para prestar honras ao sexagésimo aniversário da entronização do Dalai Lama.
O Karmapa escreve poesia caracterizada por eruditos da linhagem como extraordinariamente sofisticada e refinada para alguém de sua idade. Muitos de seus poemas foram postos sob a forma de música pelo internacionalmente aclamado Instituto de Artes Performáticas (TIPA), que lançou um gravação com estas canções entitulada Melodia da Verdade.
Em 2 de fevereiro de 2001, Kalön Tashi Wangdi, Ministro para a Religião e Cultura da Central Tibetana de Administração (Governo Tibetano no Exílio)anunciou que o governo da Índia concedeu status formal de refugiado a Sua Santidade Karmapa. Essa notícia foi uma grande causa para celebração por parte dos seguidores do Karmapa em todo o mundo, pois ela pavimenta o caminho de sua habilidade para começar a viajar.
Logo em seguida à concessão do status de refugiado, Sua Santidade embarcou em uma peregrinação a alguns locais sagrados da Índia. Participou de atividades religiosas e de celebrações durante o Losar em Sarnath (em Varanasi), onde o Buddha Shakyamuni deu o primeiro giro da roda do dharma. A peregrinação incluiu também uma viagem a Bodhgaya, o lugar da iluminação do Buddha.
Após retornar de Bodhgaya, Sua Santidade presidiu sua primeira conferência de imprensa, presenciada por membros da mídia internacional, para explicar os detalhes de sua fuga do Tibete e a razão de ir à Índia. Desde então, ele fez uma peregrinação à Ladakh, e em Dezembro dirigiu o Kagyu Monlam em Bodhgaya.
No início de 2002, Sua Santidade retornou a Sarnath por várias semanas, onde ficou no Instituto Vajravidya. Durante este tempo ele se juntou à Sua Santidade Dalai Lama e Gaden Tri Rinpoche em frente à sagrada stupa Dhamekha onde ofereceram preces. O Karmapa retornou para sua residência temporária no Templo Gyuto Ramoche próximo à Dharamsala em Fevereiro a tempo para as celebrações do Losar, e para continuar seus estudos avançados.
Naquela primavera, a revista Time Asia nomeou Sua Santidade Karmapa um dos seus heróis Asiáticos, uma honra que a revista confere nos “indivíduos cuja coragem nos inspiram”. Sua Santidade foi designado um herói do Tibete, cuja “ousada fuga da China mantém viva a esperança para os tibetanos”.
Em uma cerimônia formal no dia 24 de Julho de 2002, diante de centenas de monges, Sua Santidade Karmapa recebeu sua ordenação monástica de noviço de Sua Santidade Dalai Lama, assistido por Sua Eminência Gyaltsab Rinpoche. A ocasião foi seguida por vários dias de celebração na Universidade Tântrica de Gyuto Ramoche.
fonte: Centro budista KTC
Sem comentários:
Enviar um comentário