por Lama Denys
Extrato do livro: "DHARMA – la voie du Bouddha – Mahamudra-Dzogchen"
Tradução p/ português: Karma Tenpa Dhargye
Extrato do livro: "DHARMA – la voie du Bouddha – Mahamudra-Dzogchen"
Tradução p/ português: Karma Tenpa Dhargye
Como aproximar-se,
viver a ausência de conceito, a não-concepção ou o não-nascido?
A experiência primordial é a
realização da natureza da mente. Ela é dita primordial porque vive antes que
surjam os conceitos da mente habitual. É o instante primeiro da experiência
antes do nascimento do conceito, antes que nasça o conhecedor [sujeito], o conhecido
[objeto] e seu conhecimento, quer dizer a consciência dualista, com suas
ilusões e as alienações que daí procedem. Este instante primordial é o do
presente da instantaneidade, do estado de Presença que é a experiência do
coração da tradição Mahamudra e do Dzogchen e também de toda
espiritualidade autêntica desde as mais longicuas eras.
A prática de Mahamudra
se apóia sobre a meditação, a descoberta da realidade tal como ela é, ter a
experiência de nossa natureza verdadeira. Esta experiência está fundada sobre o
instante presente, mais exatamente sobre a instantaneidade presente ou
imediaticidade. Ela não olha nem em direção ao passado nem em direção ao futuro
nem mesmo o presente. A experiência da imediaticidade é a liberação de todas
referências relativas a cada um dos três tempos. É uma experiência muito
simples, extremamente simples, que se situa antes das noções e dos conceitos
que são o modo de funcionamento de nosso mental habitual. Mahamudra é a
experiência desta simplicidade fundamental. É a mente "comum", o
estado de imediaticidade, da experiência do presente instantâneo.
Esta experiência primordial é a
experiência dos sentidos. É a experiência dos sentidos sem o mental conceitual,
a experiência não-conceitual dos sentidos, dos cinco sentidos habituais e do
sentido interno [a mente].
Esta experiência direta e
imediata é uma experiência de presença, de presença total, de presença
absoluta: a presença no sentido, "sem outra", sem mesmo um
observador, um experimentador, sem o "speaker-reporter-relator"
do mental discursivo.
É a experiência de participação
ou de comunhão plena e total com os sentidos. Mahamudra e Dzogchen
são um estado – o estado de Budha, a experiência primordial – e são também os
ensinamentos que permitem a realização deste estado. A prática de Mahamudra-Dzogchen
é também uma prática de incorporação dos sentidos. Não se trata de subtrair,
mas de incorporar os sentidos. Esta incorporação se encontra na não-fixação,
ausência de escolha, de apropriação, e também, em resumo, ausência de
conceitualização.
O eu tem um caráter composto e
interdependente: ele não tem realidade, como apenas uma impressão, como
realidade de uma aparência, mas ele constitui uma impressão que separa e corta
os outros e o mundo. O não-eu1, ou não-ego é ausência de separação,
experiência não-dual que é também participação direta e imediata,
"primordial".
O importante para nossa prática
é descobrir que esta experiência sem conceitos não precisa parar os conceitos,
mas de se deixar ir, de se abandonar, de se deixar partir para os sentidos; "gate
gate paragate parasamgate bodhi soha2" (vá, vá, vá
além, vamos todos para a outra margem, assim seja).
Une experiência de amor, de
abertura sem bloqueio, união de amor de Samantabhadra3 e de Samantabhadrî,
de Vajradhara e de Dhatusvara: a união dos sentidos e de seus
domínios de experiência. O sabor do estado de Mahamudra-Dzogchen.
Notas:
1. O não-eu, ou não-ego é ausência de separação, [ou de possuir uma substancia
própria].
2. Mantra do Prajna Paramita Hridaya Sutra – O sutra do Coração da Sabedoria.
3. O Budha primordial que representa a vacuidade e sua consorte representando
todos os fenômenos, os dois em eterna união.
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