Isso é tudo que realmente importa. A existência humana deveria ser como um voto, dedicado a desvelar o significado da vida. O significado da vida na verdade não é complicado; mas ele está oculto de nós devido ao modo como encaramos nossas dificuldades. É necessária a prática mais paciente para começarmos a ver através delas, para descobrir que as pedras pontiagudas são verdadeiras jóias.
Nada disso tem nenhuma relação com julgamento, com ser pessoas “boas” ou “más”. Apenas fazemos o melhor que podemos a qualquer momento; o que não vemos, não vemos.
Esse é o ponto da prática: alargar aquele pequeno furo que se abre às vezes, pelo qual podemos ver, para que ele fique maior e maior. Ninguém o vê o tempo todo. Eu certamente não vejo. Então, continuamos perfurando.
De certo modo, a prática é diversão: olhar minha própria vida e ser honesta sobre ela é divertido. É difícil, humilhante e desencorajador; ainda assim, por outro lado, é diversão — porque está viva. Ver a mim mesma e minha vida como realmente somos é alegria.
Depois de toda luta, fuga, negação e caminhar no sentido oposto, é uma profunda satisfação, por um segundo, estar lá com a vida como ela é. A satisfação é o próprio núcleo de nós mesmos. Quem somos está além de palavras — apenas aquele poder aberto de vida, manifestando-se constantemente em todos os tipos de coisas interessantes, mesmo em nossas angústias e lutas.
A disputa é ao mesmo tempo horrenda e benéfica. É isso que significa preparar o solo. Não temos que nos preocupar com os pequenos momentos ou aberturas que pipocam. Se tivermos solo fértil e bem-preparado, podemos jogar qualquer coisa lá que vai crescer.
Charlotte Joko Beck (EUA, 1917 ~ 2011)
“Nothing Special”, loc. 1634
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