O Dharma no Tibete


 
 
Retirado do livroBudismo:Psicologia do Autoconhecimento
 
Primitivamente a religião no Tibete era Bon-Po ou Bon, uma antiga religião caracterizada por sacrifícios oferecidos aos deuses, rituais mágicos e toda espécie de superstições.
Somente no século VII d.C., o 32° rei, Svan-Tsan-Gampo, influenciado por suas rainhas, uma da China e outra do Nepal, introduziu o Budismo no Tibete; construiu numerosos templos e enviou à Índia um grupo chefiado por seu conselheiro Tson-Me-Sambhota para estudar o sânscrito e as escrituras budistas. Voltando estes ao Tibete criaram, com o que aprenderam, um novo alfabeto tibetano; nesta mesma época o rei convidara muitos sábios-panditas1 budistas com a finalidade de ensinarem a Doutrina no país. Os mais famosas foram os acaryas (mestres) Kumara, Brahmana Sankara e Silamanju que traduziram vários sutras e ensinamentos tântricos. O próprio rei, depois de acumular bastante conhecimento sobre o Budismo, também o divulgou e o Budismo, aos poucos, começou a florescer.
Assim, no reinado do 37° rei, Tri-tsong-de-tsen (756-8O4 d.C.), governante muito justo e piedoso, o Budismo já era bem difundido. Este rei, querendo difundir o Dharma de Buda em todo o seu reino, convidou também vários mestres indianos, entre os quais os mais famosos foram Padma-Sambhava e Upadhaya Santaraksita, além de outros grandes sábios, muito conhecidos no Tibete pelo nome de 108 panditas. Estes traduziram o Trípitaka (Sagrado Cânone da Palavra do Buda) e, juntamente com literatura tântrica, relativa à prática da meditação em língua tibetana, escreveram os dezoito volumes da Mahasiddhi, obra denominada "Grande Realização". Assim o 37° rei pôs em movimento a chamada "Roda Adamantina do Grande Segredo" — Maha-vajrayana. Esta linhagem iniciada por Padma-Sambhava é conhecida como escola tântrica dos antigos — Nyungma-pa.
O seguinte 41° grande rei, chamado Tri-ral-pa-tsen (817-836 d.C.), encarregou, para cada sete famílias, o sustento de um monge; construiu mais de mil viharas e convidou mestres indianos que, juntamente com tradutores tibetanos — lotsavas, fizeram a revisão das traduções feitas nos reinos anteriores, tanto dos livros Theravada (no Tibete chamado "livro dos discípulos" — Sravaka), como dos livros Mahayana. Esses panditas prepararam uma coleção de dezesseis volumes conhecida como a "Grande Mãe" (discursos em mil versos sobre a Sabedoria Perfeita).
Depois da morte desse último monarca, o 42° rei era averso ao Budismo; fez tudo para destruir os mosteiros e as escrituras, perseguindo os budistas com crueldades, de modo que o Dharma de Buda quase que desapareceu, durante seu reinado. Três dos seguidores do mestre Santaraksita conseguiram fugir para a região do Khamba, no Tibete, e novamente recomeçou o estabelecimento da ordem monástica que, aos poucos, foi progredindo. Só após a morte desse rei, o Dharma de Buda foi novamente restabelecido no Tibete.
Dos tempos antigos até a chegada do acarya Smrtijnana 978 d.C., os livros tantras traduzidos eram chamados "Antigas traduções" e aqueles que seguiram esse ensinamento eram conhecidos como "Antigos do Velho Estilo". A partir do lotsava Rinchen, os tantras traduzidos para o tibetano foram chamados "Novas traduções" e seus seguidores, os do "Novo Estilo", ou Sauna.
Nas peregrinações à Índia sob a orientação dos mestres Naropa e Maitripa, destacou-se o eminente discípulo Jetsun Milarepa que fundou uma nova corrente chamada Kargyut-pa ou "Transmissão Sagrada", traduzindo e explicando livros autorizados.
Em 1039, o acarya Mahapandita Dipanikara, célebre mestre indiano, difundiu os profundos ensinamentos, estabelecendo a escola Khadam-pa.
Cerca de trezentos anos mais tarde, em 1357, nasceu Tson-kha-pa que, instruído na escola Khadam-pa, adquiriu o verdadeiro conhecimento de Buda, ensinou e desenvolveu, através dos seus discípulos a escola Gelug-pa (Os Virtuosos); reorganizou o regime monástico, submetendo os monges ao regime alimentar e ao celibato. Foi o renascimento do Budismo no Tibete e, outra vez, o Dharma voltou a brilhar como o "Sol entre as nuvens". O Budismo floresceu e propagou-se cada vez mais e foram construídos milhares de mosteiros. Os três maiores eram: Drey-pung, com quase 8 000 monges, o Serai com cerca de 5 500 e o Gaden com 3 300 monges. Nos mosteiros menores havia pelo menos 100 monges residentes. Esses mosteiros eram mantidos pelo governo e ajudados pelo povo.
As escrituras budistas no Tibete estão compiladas no Kangyur, coleção de cento e oito volumes. Além dessa coleção, há os Comentários Tangyur —, que se estendem por duzentos e vinte e cinco volumes. Mas não somente esses 333 volumes constituíam o acervo cultural do Tibete; em alguns mosteiros afastados escondiam-se livros que, após alguns séculos, foram encontrados e estudados por gerações de lamas.
Infelizmente, o povo pacifico do Tibete teve de sofrer, mais uma vez, uma grande tragédia em mãos dos comunistas chineses que invadiram o Tibete saqueando-o e destruindo-o. Os mosteiros foram destruídos e as sagradas escrituras queimadas. Os tibetanos que vivem no exílio fazem o possível para preservar e manter as antigas tradições.
O 14° Dalai2-Lama Tenzin Gyatsho diz: "Com toda a força que os ventos do mal possam soprar, será insuficiente para apagar a chama da Verdade."
Transcrito, em parte, do Review World Fellowsbip of Buddhisís.
março--abril de 1974. Artigo do Bhikkhu Npdup PaIjor (Tibete).
Notas:

1. Pandita: culto, sábio, circunspecto, inteligente.
2. Dalai significa "imenso como oceano", daí o nome Dalai-Lama significando "Oceano de Sabedoria".

Fonte: Shunya

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