fonte: Dr. Alexander Berzin
Características das Famílias Búdicas e Elementos da Natureza
Búdica
As famílias búdicas referem-se aos aspectos da natureza
búdica. Ou seja, famílias búdicas são famílias (grupos) de características
búdicas. Essas características são inatas no continuum mental de todos os seres
e nos permitem tornarmo-nos budas.
No nível básico, esses aspectos não estão purificados, o que
significa que sua continuidade está misturada com ignorância (falta de
consciência) e aflições mentais; mais especificamente, com os obscurecimentos
emocionais e cognitivos.
No nível do caminho, estão parcialmente purificados e
parcialmente não purificados. Este nível é o nível dos aryas, quando alguns dos
obscurecimentos foram removidos para sempre.
No nível resultante, eles estão totalmente purificados, e
funcionam de forma desimpedida como os aspectos iluminados de um buda.
Os Tantras Kriya e Charya
As duas primeiras classe do tantra, Kriya e Charya, têm três
famílias de características búdicas:
A família Tathagata, ou Buda, na qual as principais figuras
búdicas (yi-dam, deidades) são Shakyamuni e Manjushri
A família Lótus (Skt. padma), que tem Amitaba,
Avalokiteshvara e Tara como principais figuras búdicas
A família Vajra, na qual Akshobia e Vajrapani são as
principais figuras búdicas.
No nível mais amplo:
Manjushri representa o corpo
Amitaba e Avalokiteshvara representam a fala
Vajrapani representa a mente.
No que diz respeito à mente:
Manjushri representa o entendimento (sabedoria)
Amitaba e Avalokiteshvara representam a compaixão
Vajrapani representa as habilidades poderosas.
Yoga Tantra
A terceira classe do tantra, o yoga tantra, tem quatro
famílias de características búdicas, uma para cada um dos quatro tópicos
discutidos nos textos desta classe:
A família Tathagata, liderada por Vairochana, para o corpo
A família Vajra, liderada por Akshobia, para a mente
A família Lótus, liderada por Amitaba, para a fala
A família Joia (Skt. ratna), liderada por Ratnasambhava,
para ações.
A quinta família búdica, Karma (ação), liderada por
Amogasidi, está subordinada à família Joia.
Anuttarayoga Tantra
Anuttarayoga, a quarta classe do tantra, tem cinco famílias
(grupos) de características búdicas:
A família Tathagata (representada por uma roda), em que
Vairochana é a principal figura búdica
A família Joia, com Ratnasambhava como principal figura
búdica
A família Lotus, com Amitaba e Avalokiteshvara como
principais figuras búdicas
A família Karma (representada por uma espada), com Amogasidi
e Tara como principais figuras búdicas
A família Vajra, com Akshobia como principal figura búdica.
Na forma mais ampla:
Vairochana representa o corpo
Ratnasambhava representa as boas qualidades
Amitaba representa a fala
Amogasidi representa as ações
Akshobia representa a mente.
No que diz respeito aos cinco fatores agregados de nossa
experiência (skt. skandhas, cinco agregados), segue a descrição do Guhyasamaja
Tantra com as cores e direções de acordo com a mandala Guhyasamaja:
Vairochana (branco, leste) representa os agregados das
formas dos fenômenos físicos (agregado da forma)
Ratnasambhava (amarelo, sul) representa o agregado das
sensações de níveis de felicidade (agregado das sensações)
Amitaba (vermelho, oeste) representa o agregado da distinção
(agregado da percepção)
Amogasidi (verde, norte) representa o agregado das outras
variáveis influentes (agregado das formações mentais)
Akshobia (azul, centro) representa o agregado dos tipos de
consciência (agregado da consciência).
No que diz respeito ao agregado da forma dos fenômenos
físicos (corpo), as cinco famílias búdicas estão associadas aos cinco
elementos:
A família Vairochana representa o elemento terra
A família Ratnasambhava representa o elemento água
A família Amitaba representa o elemento fogo
A família Amogasidi representa o elemento vento
A família Akshobia representa o elemento espaço.
No que diz respeito ao agregado dos tipos de consciência
(mente):
A família Vairochana representa a consciência visual
A família Ratnasambhava representa a consciência auditiva
A família Amitaba representa a consciência olfativa
A família Amogasidi representa a consciência gustativa
A família Akshobia representa a consciência corporal.
As Cinco Famílias de Características Búdicas em termos das
Cinco Consciências Profundas
No que diz respeito às boas qualidades, ou seja, aos cinco
tipos de consciência profunda (ye-shes, cinco sabedorias), que são um outro
aspecto do agregado da consciência:
Vairochana representa a consciência profunda do espelho
(sabedoria do espelho)
Ratnasambhava representa a consciência profunda da igualdade
(sabedoria da igualdade)
Amitaba representa a consciência profunda da individualidade
(sabedoria discriminativa)
Amogasidi representa a consciência profunda realizadora
(sabedoria da causalidade)
Akshobia representa a consciência profunda da esfera da
realidade (consciência da realidade, Skt. dharmadhatu, sabedoria dharmata).
As dezenove práticas para estreitarmos nosso vínculo
(dam-tshig, Skt. samaya) com as cinco famílias de características búdicas e,
especificamente, os cinco tipos de consciência profunda são:
As seis práticas para estreitarmos nosso vínculo com a
consciência (sabedoria) do espelho (Vairochana):
Direção segura (refúgio) nas três jóias: O buda, o dharma e
a sangha de aryas.
Os três tipos de autodisciplina ética: evitar comportamentos
destrutivos, engajar-se em comportamentos construtivos, como a meditação, e
ajudar os seres sencientes.
2. As quatro práticas para estreitarmos nosso vínculo com a
consciência (sabedoria) da igualdade (Ratnasambhava):
Os quatro tipos de generosidade: doar objetos materiais,
doar dharma, doar liberdade do medo e doar amor (o desejo de que todos sejam
felizes e encontrem as causas da felicidade).
3. As três práticas para estreitarmos nosso vínculo com a
consciência da individualidade (sabedoria discriminativa) (Amitaba):
Apoiar os ensinamentos do veículo sutra (shravaka,
pratyekabuda, e bodhisattva), das classes externas do tantra (kriya and charya)
e das classes secretas (confidenciais) do tantra (yoga e anuttarayoga) (no
Nyingma: yoga, mahayoga e atiyoga ou dzogchen).
4. As duas práticas para estreitarmos nosso vínculo com a
consciência realizadora (sabedoria da causalidade) (Amogasidi):
Fazer oferendas
Manter nossos votos.
5. As cinco práticas para estreitarmos nosso vínculo com a
consciência da esfera da realidade (sabedoria de dharmata) (Akshobia):
Manter um vajra e o que ele representa, a clareza de
aparecer em uma aparência pura e a consciência bem-aventurada, como um símbolo
do método
Manter um sino e o que ele representa, a consciência da
vacuidade, como símbolo da sabedoria
Manter o mudra (selo) de nos visualizarmos como um casal de
figuras búdicas em união, representando a união não dual de método e sabedoria
Nos comprometer, de uma maneira adequada, em um
relacionamento saudável com nosso mestre tântrico.
Quando os cinco tipos de consciência profunda são não
purificados (misturados com ignorância sobre a natureza da realidade):
A consciência do espelho (Vairochana) torna-se ingenuidade
A consciência da igualdade (Ratnasambhava) torna-se
arrogância e avareza
A consciência individualizadora (Amitaba) torna-se desejo e
apego
A consciência realizadora (Amogasidi) torna-se inveja
A consciência da realidade (Akshobia) torna-se raiva.
Amitaba
Para trabalharmos com alguma família búdica, como a de
Amitaba, precisamos agrupar, de uma forma coerente, todas os vários fatores
associados com os aspectos da natureza búdica que são característicos dessa
família. Consideremos o exemplo de Amitaba. Os aspectos associados são:
A consciência profunda das individualidades
O agregado da distinção
A fala
A consciência olfativa (como um animal capaz de distinguir
precisamente pelo cheiro)
O fogo
O desejo e apego (com os quais focamos ou exageramos as boas
qualidades que distinguem um indivíduo)
O símbolo do lótus (nascido em águas lamacentas, mas que não
é sujo de lama)
Compaixão.
Quando relaxamos nossa forma de distinguir pessoas e coisas,
colocando-as em categorias fixas de palavras e conceitos, como fala e cheiro, e
afrouxamos o desejo e apego que surgem quando exageramos as boas qualidades
individuais de pessoas e coisas, distinguindo-as como especiais, naturalmente
permanecemos na qualidade búdica subjacente da consciência profunda das
individualidades. Essa consciência é como a chama de uma lamparina, ela apenas
ilumina as coisas, permitindo-nos que as especifiquemos. Por natureza, essa
consciência profunda não é manchada por desejo e apego, assim como no exemplo
do lótus.
Portanto, a consciência das individualidades nos permite
estabelecer uma comunicação compassiva com cada indivíduo.
Para conseguirmos chegar a esse nível, sustentamos todas as
classes de sutra e tantra distinguindo suas características individuais, mas
sem nos apegarmos a um como sendo mais especial em detrimento dos outros.
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