Coração de tristeza

Kongtrul Rinpoche sugeriu que rezemos ao guru, budas e bodisatvas para pedir que concedam suas bênçãos, “para que eu faça nascer o coração de tristeza”. Mas o que é um “coração de tristeza”? Imagine que você tem um sonho. Embora seja um bom sonho, lá no fundo você sabe que eventualmente terá que acordar e tudo vai acabar. Na vida também, cedo ou tarde, qualquer que seja o estado de nossos relacionamentos, nossa saúde, nossos empregos e qualquer aspecto de nossas vidas, tudo, absolutamente tudo irá mudar. E o pequeno sino batendo ao fundo em sua cabeça para lembrá-lo dessa inevitabilidade é o que se chama “coração de tristeza”. A vida, você compreende, é uma corrida contra o tempo, e você não deve nunca adiar a prática do darma para o ano que vem, mês que vem ou amanhã, porque o futuro pode nunca chegar. Essa atitude de corrida contra o tempo é muito importante, especialmente quando se trata de prática. Minha própria experiência já me mostrou que prometer para mim que vou começar a praticar semana que vem, isso praticamente garante que eu nunca chegue a fazer. E não acho que eu esteja sozinho. Então, uma vez que você entenda que a verdadeira prática do darma não é apenas sentar em meditação formal — mas um confronto sem fim de oposição ao orgulho e o ego, assim como uma lição sobre como aceitar a mudança — você será capaz de começar a praticar imediatamente. Por exemplo, imagine que você está sentado em uma praia admirando o pôr do sol. Nada de terrível aconteceu e você está contente, até feliz. Então, subitamente aquele pequeno sino começa a soar em sua cabeça, lembrando que esse pode ser o último pôr do sol da sua vida, você pode renascer sem a habilidade de apreciar um pôr do sol — sem nem falar na capacidade de entender o que é isso — e esse pensamento por si só te ajuda a focar a mente na prática. “Not For Happiness”, loc. 281

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